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#Música#Cinema#Literatura|Bruno Tavares|13 Dez 2018

Carta ao Sérgio

Caríssimo Sergio

Escrevo hoje porque até ontem eu só cantava. Como qualquer brasileiro, aprendi antes a cantar que escrever. Aprendi a cantar em brasileiro em Santiago do Chile ouvindo o canto dos exilados. Eles passavam pela casa de minha mãe e viravam noite falando e cantando. Por isso me acostumei com a minha língua natal através da palavra falda e da canção. 

Nem me lembro da primeira vez que ouvi uma canção tua. No início todas as canções se misturavam num universo amplo de vozes humanas. Humanas memórias de terras e saudades, de amores e ideais. Mas ali já estava você. Misturado ao Victor Jara, ao Tom, ao Noel, à Violeta, à Nara, ao Caymmi, ao João. Só muito mais tarde soube que você é João também. 

Depois virei compositor popular. Quantos compositores eu conheci nestes quarenta anos de estrada pelo Brasil. Somos o país dos camionistas, mais até que do futebol. Meu primeiro parceiro foi Mario Grisolli. Acho que a primeira canção se chamava Furtiva e Sensual. Mas a memória pode estar me pregando uma peça depois de tanto tempo.

Sei que foi o Mario que me chamou em 2008 para filmar teu retorno aos palcos. Éramos cineastas amadores, como você foi um dia. E partimos, cheios esperança, com nossa pequena bagagem de vinte curtas digitais feitos entre 2004 e 2006 pelo coletivo - Cactos Intactos, para filmar o volta do grande Sergio Ricardo. Quanto orgulho pela missão. 

Desde então estudei muito e aprendi muito mais sobre você e teu tempo. Estudei a canção popular brasileira através da história gravada do Projeto Pixinguinha idealizado por Hermínio Belo de Carvalho. Tornei-me um pesquisador de ofício, um historiador da MPB. Hoje te escrevo para pedir tua benção, a licença de Sergio Ricardo para contar um pouco da história do teu tempo com a ajuda de Marina, tua filha, e Mario, meu parceiro.

Peço essa incelença em um tempo escuro de doença e medo que se abate sobre o Brasil. Um tempo de Tarja Cravada, como você viveu antes e superou. Você Sergio é um farol para os que amam a cultura popular brasileira. E sei que são muitos. Por isso peço licença para falar e cantar teu tempo e tua história. A história da MPB de Combate.

Um abraço no teu corpo astral do amigo BT.


Rio, 04 de outubro de 2020.

 

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Bruno Tavares trabalhou com diversos grupos de música popular, memória e acervos audiovisuais. Está inserido no universo de pesquisa da identidade cultural através da música brasileira, tendo participado como produtor e pesquisador de imagem e som de diversos projetos institucionais ligados à História Cultural Contemporânea do Brasil.


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