Selecione uma ou mais categorias:

+ categorias

#Literatura|Larissa Vilarinho|13 Dez 2018

Sérgio Ricardo: a arte de lutar pelo que acredita

Texto sobre um homem de muitos talentos que fez questão de usar sua voz em prol de pautas que considerava corretas.

Um homem de muitos talentos. Uma forma simples e objetiva de definir João Lutfi, ou melhor, Sérgio Ricardo, como é conhecido artisticamente. Por ironia do destino ou não e também por 2020 ser um ano triste, Sérgio faleceu cinco dias após completar 88 anos em junho.

Provavelmente os imigrantes sírios, Abdalla Lutfi e Maria Mansur Lutfi, não imaginavam que o primeiro filho nascido em 18 de junho de 1932 na cidade de Marília, em São Paulo, se tonaria um músico, cantor, compositor, ator, apresentador, roteirista, diretor e ativista importante na história cultural brasileira.

A trajetória de Sérgio com a arte começou aos 8 anos quando ingressou no Conservatório de Música de Marília para estudar piano e teoria musical e, desde então, não parou mais, trabalhou como pianista em boates, compôs para outros artistas, atuou, lançou discos, entrou no universo do cinema, morou fora do país e em 1967 realizou um dos feitos mais lembrados de sua história.

Conhecido por falar abertamente contra a Ditadura Militar, durante a terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira, Sérgio quebrou seu violão e o atirou sobre a plateia após ser vaiado pelo público. O cantor levou para o evento “Beto bom de bola”, música com crítica política mais sutil. A letra é sobre um jogador de futebol que alcança a glória, mas é esquecido.

O episódio passa e apesar de continuar sendo uma lembrança recorrente em sua carreira, Sérgio continua sua trajetória pela arte com vários projetos e em 1975, é convidado a fazer um filme sobre “Zelão” - personagem de sua música de maior sucesso e que leva o mesmo nome.

Ele então, compra um apartamento no Morro do Vidigal, onde monta um atelier, além de um barraco na favela e realiza um de seus feitos mais admiráveis, em minha opinião.

Apesar de certa familiaridade com o universo das favelas por conta de seus dois primeiros filmes, sua intenção era conviver com os moradores do local para captar a credibilidade da história que faria, mas acaba se envolvendo na luta dos moradores do local contra a remoção da favela.

Ajudado por um amigo, consegue envolver o advogado Sobral Pinto na luta. Ele defende a causa gratuitamente e tem sucesso nos tribunais. Os ‘favelados’ conseguem posse dos terrenos e começam a reconstruir suas casas após tentativa fracassada do governo de desocupar o local.

Sérgio ainda organiza um show como forma de arrecadar fundos para reerguer as casas dos moradores do Vidigal e convoca para o espetáculo realizado na concha acústica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) nomes como Chico Buarque e Gonzaguinha.

Uma atitude admirável de um homem visto como “classe A”, digamos assim e que em plena Ditadura Militar não teve medo de se impor e ajudar os “favelados” a terem direito a uma casa.

“Mas é assim mesmo Zelão, dizia sempre a sorrir que um pobre ajuda outro pobre até melhorar”, a frase da música “Zelão” traz uma bela mensagem de solidariedade que o próprio Sérgio mostrou com essa atitude.

 

_

Larissa Vilarinho tem 22 anos e é formanda de jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida, campus Cabo Frio (RJ). É apaixonada por boas histórias e gosta de dar o seu olhar para todas aquelas que tem a oportunidade de contar. Atualmente trabalha como assessora de imprensa em uma editora de livros infantis. Nas horas vagas, gosta de ler e assistir filmes e séries.


POSTS RELACIONADOS


SIGA SERGIO RICARDO MEMÓRIA VIVA!

Este espaço é construído colaborativamente, de forma dinâmica, viva e múltipla como a obra de SR.
E é a partir dela que falamos, mostramos e trocamos cultura brasileira em todas as suas vertentes. Você também pode contribuir livremente para seguir renovando o nosso papo. É só falar com a gente no colaborar@sergioricardo.com para saber mais.
  • REALIZAÇÃO:
  •  
  • APOIO:
  • REALIZAÇÃO:
  •  
  • APOIO: