Nascido João Lutfi, Sérgio Ricardo (1932-2020) é um multiartista brasileiro,
original da cidade de Marília (SP).
Muda-se para o Rio de Janeiro nos anos 1950, onde trabalha como crooner, ator e apresentador de televisão e participa da fundação da Bossa Nova, ao lado de João Gilberto e Tom Jobim. Nos anos 60, Sérgio lança seu primeiro e premiado filme, “O Menino da Calça Branca” (1961), com edição de Nelson Pereira dos Santos e fotografia do irmão Dib Lutfi, unindo-se então ao Cinema Novo e mais tarde trabalhando com Glauber Rocha. Nos anos 70, mergulha ainda mais nas questões do povo brasileiro e passa a expressá-las em todas as suas artes. Questiona e resiste à ditadura militar, sofrendo censuras e boicotes do regime, pecha maldita que marca sua obra até os dias de hoje. Jamais parou de lutar e produzir música, cinema, poesia, livro, peça, pintura. Em 2017, dirige seu último filme, “Bandeira de Retalhos”, sobre a resistência de moradores do morro do Vidigal (RJ), onde residiu
grande parte de sua vida.
Em julho de 2020, aos 88 anos, Sérgio Ricardo parte, deixando a todos nós seu verdadeiro legado: a paixão pela cultura do povo e a necessidade de debater e expressar as fomes, desejos e vontades de nosso país.
Nasce em Marília, São Paulo, em 18 de junho de 1932, João Lutfi (Sérgio Ricardo). Primeiro filho de Maria Mansur Lutfi e Abdalla Lutfi. Vindo da Síria, o casal vivia em Marília desde 1930, ano de fundação da cidade.
Aos 8 anos, ingressa no Conservatório de Música de Marília para estudar piano e teoria musical, consolidando sua formação musical erudita 9 anos depois.
Sua família se muda para a capital paulista em 1944. Continua seu aprendizado de piano e cursa o ginásio no Liceu Pasteur. Aluno rebelde, só se empenha em matérias relativas às artes. Dois anos mais tarde, volta com a família para Marília.
Elementos musicais, como a banda do maestro Galati no coreto do jardim, o cantar dos nordestinos, interpretações do regional e intérpretes locais de programas da Rádio Clube de Marília e da Rádio Nacional sedimentam em seu inconsciente a brasilidade musical da época.
Ao terminar o ginásio, vai para São Vicente trabalhar na rádio Cultura São Vicente, como operador de som, locutor e discotecário, quando trava conhecimento diário com toda a música da época e amplia seu conhecimento da história da música. Do erudito ao popular, do nacional ao estrangeiro. Seu ouvido fica, por um ano, tomado pela informação, distante de seu piano e dos estudos.
Passa a tirar de ouvido as músicas que ouve diariamente, em um piano cedido pelo dono da boate Savol. Seu toque motiva o dono do local a contratá-lo para as domingueiras. Sozinho, anima a noite solando tangos, sambas, valsas, choros, foxes e outros ritmos ao estilo do pianista Carmen Cavalaro. A casa lota.
Seu tio Salim Mansur leva Sérgio-João para o Rio de Janeiro, onde passa a ter certeza de que não abandonará mais a música.
Atua como locutor no programa do tio, na Rádio Vera Cruz, depois de aprender com ele a arte da locução e da narração. Paralelamente retoma seus estudos de piano e teoria musical no Conservatório Nacional de Música. Exercita-se no piano da rádio e cursa o científico no Colégio Lafayete. Troca o colégio pela leitura. Torna-se um leitor voraz e se fixa no estudo das artes.
Exercita-se diariamente em um piano de seu amigo vizinho. Exibe-se em festas de colégio e frequenta o auditório da Rádio Nacional para ver de perto os artistas que admirava: Léo Peracchi, Radamés Gnatalli, Garoto, Lúcio Alves, Dick Farney e tantos cantores e músicos da época.
É contratado como pianista da boate Corsário, na Barra da Tijuca, e ingressa na vida noturna. Com o lucro de seu trabalho de pianista solo, compra seu primeiro piano, um Rener vertical que o acompanharia por décadas. Com a continuidade da peregrinação em boates do Rio, suaviza a dificuldade financeira familiar e torna-se conhecido.
Retoma seus estudos de música e o trabalho como pianista. Em Copacabana, seu colega Newton Mendonça lhe informa de uma vaga na boite Posto Cinco, onde Tom Jobim, parceiro de Newton, deixava o lugar de pianista. Sérgio assume a posição.
Durante longos anos trabalhando na noite, faz muitas transformações e contatos. Descobre Johnny Alf, Moacir Peixoto, João Donato, João Gilberto, Lúcio Alves, Tito Madi, Fats Elpídio, Esdras e muitos outros com os quais aprende a música mais elaborada, pesquisando formas e o bom gosto vanguardista que eles expressam com seus instrumentos, interpretações ou composições.
Recebe aulas de harmonia e contraponto com Paulo Silva, Moacir Santos e Ester Scliar. Começa a compor, prestes a largar a noite. Na boite Chez Colbert (mais tarde Little Club), da portuguesa Eunice Colbert, no Beco das Garrafas, começa a cantar incentivado por ela.
Muito requisitado, passa por praticamente todas as casas noturnas do Rio e de São Paulo. Às vezes só, às vezes com trios. Em meados dos anos 50, já se apresenta cantando, inclusive mostrando composições próprias.
Em companhia da cantora Maysa, o compositor Nazareno de Brito visita a boate Dominó, em Copacabana, para fazê-la ouvir a mais recente composição de Sérgio-João: Buquet de Izabel. A intérprete se interessa e grava a música com arranjo de Simonetti em seu segundo LP. É lançado, oficialmente, como compositor.
Vence um concurso para ator de cinema e, mais tarde, é contratado por quatro anos para a TV e para a Rádio Difusora, mas com uma condição: mudar seu nome. João Lutfi reluta, mas concorda em se transformar em Sérgio Ricardo.
Passa a intercalar seu trabalho de ator com o de pianista da noite. Estrela o musical Música e Fantasia (de Theófilo de Barros), como galã. Atua também em vários programas e faz alguns papéis em novelas. Mas sente-se desconfortável com a quantidade excessiva de trabalho e rompe o contrato. Retoma então sua atuação na noite.
De sua fase pianística fica ainda o registro de um LP, feito para a Continental, Dançante nº1, com músicas americanas, brasileiras e algumas composições suas ainda sem letra. Recebe elogio da crítica tendo uma execução relevante no rádio, mesmo com a restrita atenção voltada para a música instrumental.
Volta a morar no Rio de Janeiro, na Rua Humaitá. Assistindo a um deslizamento na pequena favela em frente à sua janela, soterrando barracos, mobiliza-se pela cena, senta-se ao piano e compõe Zelão, seu maior sucesso.
Apresentado ao novelista e escritor Pedro Anísio, que finalizava o roteiro da novela Está Escrito no Céu, da TV Rio, dirigida por Carla Civelli, Sérgio ganha o papel e faz sucesso como galã. Seu rosto fica mais conhecido do grande público carioca e seu personagem cantava ao piano o tema principal da novela.
Renova o contrato com a TV Rio, integra o elenco da novela Mulher de Branco e ganha belos papéis no Grande Teatro, dirigido por Carla e Benedito Corsi, e no Studio B. Em ambos encena peças de grandes autores.
O aprendizado sobre cinema tem participação de Carla Corsi e, principalmente, de Ruy Guerra. Com a experiência de ator e o convívio com a câmera, somados à leitura de livros sobre roteiro e direção, Sérgio anseia pelo momento de encarar o cinema.
Na mesma época, grava seu primeiro disco como cantor para a RGE, com a música de Geraldo Serafim: Vai Jangada, um 78 rotações, muito tocado no rádio. Sai seu segundo disco, com as músicas Cafezinho e Amor Ruim.
Dermeval Costa Lima oferece um horário nobre na TV Continental para Sérgio dirigir um programa musical, atuar e cantar, formando um par romântico com sua companheira Lueli Figeiró, atriz e cantora do cinema brasileiro. O programa é batizado por Demerval de Balada.
Miéle, diretor de estúdio dos programas de Sérgio e admirador de suas composições, leva-o à casa de Nara Leão para conhecer a turma da Bossa Nova. Todos o convidam a participar do movimento.
Sérgio adota o violão como seu segundo instrumento e torna-se expoente da Bossa-Nova.
Sai o LP A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo, com produção de Aloísio de Oliveira e arranjos de Lindolfo Gaia. Nele, só composições próprias: O Nosso Olhar, Ausência de Você, Poema Azul, Buquet de Izabel e a canção de maior sucesso: Zelão.
Uma nova faceta do artista aparece: a de diretor televisivo. Convidado pela TV Tupi, Sérgio passa a dirigir um programa sobre Bossa Nova - o primeiro da TV brasileira a ser transmitido ao vivo em cadeia nacional. Sérgio comandava o programa no Rio de Janeiro, enquanto em São Paulo estava Cassiano Gabus Mendes, mais tarde autor de novelas de sucesso.
Faz vários shows pelo país e financia e dirige seu primeiro filme, Menino da Calça Branca, realizado em 35mm. Roda a produção na favela Macedo Sobrinho (hoje extinta), que ficava atrás de seu prédio no bairro do Humaitá, no Rio de Janeiro. O filme foi premiado nos EUA.
Zezinho Gama, Laura Figueiredo, Ziraldo e Sérgio atuam no filme, e seu irmão Dib Lutfi faz a fotografia. Ao ver a projeção do copião na sala do laboratório Lider, Nelson Pereira dos Santos oferece-se para montar o filme - de graça. Nasce uma amizade e outro envolvimento: o Cinema Novo.
A Odeon lança seu segundo LP, Depois do Amor, com arranjos de Gaia e produção de Aluísio de Oliveira. No repertório, as músicas que gostaria de ter feito, de seus companheiros da Bossa.
Voltado para o cinema, Sérgio termina seu curta. É escolhido pelo Itamaraty a representar o Brasil no festival de cinema de San Francisco, nos Estados Unidos, e no festival de Karlovi-Vary (Tchecoslováquia). No Rio de Janeiro, ganha o Prêmio Governador do Estado. Em Salvador, recebe o prêmio da reitoria da Universidade Católica, no Primeiro Festival de Cinema da Bahia. Sérgio viaja para San Francisco, onde um distribuidor americano se interessa imediatamente em veicular o filme pelo país.
Dias antes do término do festival, Sérgio é convocado pela Cônsul do Brasil em Nova York, Dora Vasconcelos, a participar do concerto da Bossa Nova no Carnegie Hall. Ele embarca para Nova York para ensaiar e se apresentar juntamente com seus colegas.
Faz shows em Nova York e Washington com a turma da Bossa Nova.
Reside em Nova York por quase um ano, quando prepara o roteiro de um novo filme e é sucesso em apresentações com Herbie Mann e Bola Sete no Village Vanguard.
Volta para o Brasil iniciando seu primeiro longa metragem: Esse Mundo é Meu. Escreve, roteiriza, faz a trilha sonora e dirige, ao estilo da Nouvelle Vague. No elenco: Léa Bulcão, Ziraldo, Antônio Pitanga, Luzia Aparecida, Sérgio Ricardo e o humorista Cavaca. Com inserção de trechos da Peça Ripió Lacraia, de Chico de Assis, e exímia fotografia de Dib Lutfi.
Levado para os estúdios da Philips, por seu produtor Aluísio de Oliveira, grava seu terceiro LP - Um Senhor Talento. Ao todo, 12 composições novas, entre elas: Folha de Papel, Esse Mundo é Meu, Enquanto a Tristeza não Vem, Barravento e Fábrica.
Seu amigo Chico de Assis o convida a participar do CPC (Centro Popular de Cultura), ligado a UNE (União Nacional dos Estudantes). Faz a trilha-sonora para uma peça de Carlos Estevão, atua nos shows habituais e se integra ao movimento, atuando em universidades, favelas e portas de fábricas, usando a música como meio de conscientização.
Compõe a trilha do legendário filme de Glauber Rocha, Deus e o Diabo na Terra do Sol, um marco do Cinema Novo indicado à Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1964.
Cresce vertiginosamente a articulação das esquerdas, culminando com o comício do Presidente João Goulart na frente da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. O então Governador Carlos Lacerda manda metralhar a porta do prédio da UNE no momento da saída de uma manifestação do CPC, ferindo um estudante que cai ao lado de Sérgio.
Acontece o Golpe Militar, em 1º de abril de 1964. Ninguém nas ruas. O medo toma conta da cidade, do país. No Cine São Luiz, no Rio de Janeiro, lê-se o título do filme que entra em cartaz: Esse Mundo é Meu. Nem um espectador.
O filme Esse Mundo é Meu é escolhido para representar o Brasil no festival internacional do Líbano. Sérgio viaja para lá em lua-de-mel com Ana Lúcia de Castro, sua companheira por 16 anos, mãe de suas filhas Adriana (1972) e Marina (1974). Antônio Pitanga os acompanha como ator convidado.
Esse Mundo é Meu é selecionado para ser exibido com outros filmes brasileiros na Mostra do Cinema Novo em Gênova. O filme é considerado pelo crítico Luc Mullet, em artigo publicado no Cahiers du Cinema, um dos cinco melhores do ano.
Por sua ascendência síria, é convidado a dirigir um filme na terra natal de seu pai. Sérgio aceita, curioso por conhecer a cidade de Saidnaia, nas proximidades de Damasco. Filma O Pássaro da Aldeia, um média-metragem que discute a imigração. A película é proibida de sair do país e Sérgio sequer ganha uma cópia, por conta da temática da produção. No ano seguinte, o filme é exibido no Festival do Líbano, com muito sucesso.
É contratado pela gravadora Forma e realiza dois LPs: um com a trilha do filme e outro com a de Deus e o Diabo. Esta última, para o filme de Glauber Rocha, obtém, em 1966, o prêmio de melhor trilha para cinema pela Comissão Estadual de Cinema de São Paulo, entre outras premiações.
Cria a trilha sonora da peça Coronel de Macambira, de Joaquim Cardoso, convidado por seu diretor Amir Haddad. A peça é encenada pelo TUCA do Rio.
Em seu piano compõe a trilha sonora de Terra em Transe, convocado mais uma vez por Glauber Rocha, que agora o incita a escrever para orquestra.
Com composições inéditas, dentre as quais trechos das últimas trilhas, grava o LP A Grande Música de Sérgio Ricardo, pela Philips. A capa é de Ziraldo e traz 12 novas composições, entre elas Zé do Encantado, Brincadeira de Angola (parceria com Chico de Assis), A Praça é do Povo (com Glauber Rocha) e Bichos da Noite (com Joaquim Cardoso).
Se separa da Bossa Nova e engaja-se na resistência contra a ditadura.
O rádio raramente toca alguma música de sua safra social, preferindo repetir as canções antigas que ainda se ouvem com certa frequência. Mas nos shows em que viaja de norte a sul do país, o público canta com Sérgio suas músicas políticas, causando um grande impacto.
A convite de Solano Ribeiro, inscreve a música Beto Bom de Bola no Festival Internacional da Canção de 1967. Chega à final. Mas, impedido de cantar pelo som das vaias, reage quebrando seu violão no palco e o atira na plateia, transformando o ato em notícia internacional.
No ano seguinte, volta ao mesmo Festival com uma música parcialmente censurada: Dia da Graça, chegando também à final. A parte cortada pela censura é cantada pela plateia, acompanhada pelo Modern Tropical Quintet, enquanto ele permanece mudo frente ao microfone. O público, desta forma, se redime com Sérgio.
Convidado por Bernardo Cabral, denuncia o roubo do direito autoral na CPI aberta em Brasília.
Dirigido por Augusto Boal, apresenta-se em seu show Sérgio Ricardo na Praça do Povo. Sozinho no palco, ele canta com a ajuda de playbacks, inclusive a música Beto Bom de Bola, com belíssimo arranjo de Rogerio Duprat. Passa a responder a questionamentos de personalidades mostradas em circuito interno de televisão. Fica um bom tempo em cartaz com casa lotada.
Ganha na TV Globo, em horário nobre das quartas-feiras, o programa Sérgio Ricardo em Tempo de Avanço, dirigido por Chico de Assis. A empreitada não dura muito. Sérgio entende que o executivo da emissora deseja "baixar o nível" do programa e não aceita suas recomendações, pedindo demissão.
Ganha outro programa como apresentador e galã de Pernas, um musical dirigido por Roberto Palmari na TV Excelsior. Mas ele não aceita as propostas que lhe surgem em consequência à enorme popularidade alcançada por conta do episódio do violão. Prefere se recolher, dedicando-se a dar prosseguimento ao seu cinema.
Seu vizinho, Alexandre Machado, jornalista político, oferece-lhe uma verba para produzir seu próximo filme. Avesso ao papel de produtor, Sérgio convida para sócio seu parente distante, o cineasta Jorge Illeli, dono de uma produtora de filmes e consagrado diretor, para coordenar a produção. O filme seria A Noite do Espantalho. Enquanto se arma a produção, Sérgio trabalha com Jean-Claude Bernardet, Maurice Capovilla e Luis Carlos Pires no roteiro do projeto durante um bom tempo.
É decretado o AI-5 em 1968. A ditadura enrijece cruelmente, disposta a desmantelar toda oposição ao sistema. Institui de vez a censura, acabando com a liberdade de expressão.
Jorge Illeli aconselha Sérgio a desistir de A Noite do Espantalho, em função de suas colocações políticas. Com isso, é contratado o cineasta Roberto Santos para um outro roteiro. Assim nasce o filme Juliana do Amor Perdido - mais lírico, pregando a importância da leveza em uma época tão dura. Mesmo com todo cuidado para não sofrer censura, Sérgio é obrigado a cortar uma cena poética de sexo no filme.
Ganha o Festival de Santos como melhor diretor e melhor fotografia, assinada por Dib Lutfi. Pelo INC (Instituto Nacional de Cinema), Sérgio recebe a Coruja de Ouro pela melhor música; e Dib, pela fotografia. Juliana do Amor Perdido também é considerado o melhor filme de 1969 com o prêmio Governador do Estado de S.Paulo. O INC indica o filme para representar o Brasil no 20º Festival Internacional de Berlim. Sérgio é muito bem recebido no festival. Não há premiação por conta de o júri daquele ano ter sido extinto.
Sérgio lança seu novo LP, o oitavo da carreira: Arrebentação. Nele, conta com arranjos de Theo de Barros para as músicas Mundo Velho, Arrebentação (que dá título ao disco) e Conversação de Paz, a mais tocada no rádio, juntamente com Jogo de Dados. Em todas as canções, mesmo nas mais líricas, Sérgio não abre mão da denúncia social.
Sofre intimações e percebe que está na mira da censura. Seu compacto Aleluia é apreendido e retirado das lojas de São Paulo. Seu nome passa a suscitar a autocensura das gravadoras, rádios e TVs, o que dificulta sua divulgação ou contratação.
O sucesso alcançado com a quebra do violão é lembrado a todo instante, em todas as entrevistas. As declarações ousadas contra o sistema e suas críticas constantes à arrecadação de direitos autorais e à política vigente o transformam em um "arauto da resistência". No entanto, o afasta gradativamente da mídia. A execução de suas músicas é proibida definitivamente pela censura, tanto no rádio como na TV.
Durante seu período de afastamento forçoso da mídia, aperfeiçoa suas técnicas e estudos com Guerra-Peixe e produz shows em Universidades por todo o país.
Realiza o show Conversação de Paz, lançado no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Um mês depois estreia no Teatro Opinião e segue viagem pelo Brasil.
Lança um LP pela Abril Cultural, da série MPB, vendido em bancas de jornal.
Cria e lança em sociedade com O Pasquim a série Disco de Bolso, como encarte do jornal. Suas duas edições esgotam-se nas bancas de jornal.
Começa sua parceria com o amigo Ziraldo, compondo a trilha sonora para peça infantil Flicts, adaptada do mais famoso livro infantil do cartunista.
Em 1972, nasce a sua primeira filha, Adriana de Castro Lutfi. Aos 40 anos, Sérgio ganha vida nova.
Monta um grupo com os músicos Piri Reis, Cassio Tucunduva, Fred Martins, Franklim da Flauta e Paulinho Camafeu. Ensaia no estúdio no anexo de sua casa e grava outro LP pela Continental, reunindo doze novas composições.
Consolida sucessos que seriam cantados pelos estudantes em suas andanças pelo Brasil, como Calabouço (inspirado em Edson Luís, estudante assassinado pelos militares no restaurante Calabouço em 1968), Tocaia (em homenagem a Lamarca, grande herói da guerrilha), Semente, Sina de Lampião, Canto Americano e Vou Renovar (uma sátira ao momento político).
Caulos, que fez a capa do LP, e Sérgio são intimados pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) a prestar esclarecimentos. O orgão de repressão da Ditadura Militar deseja saber o porquê de Sérgio aparecer na capa com a boca cortada, e o que pretendia dizer com o refrão "cala a boca, moço" de sua música Calabouço.
Cria a firma ZEM (Zelão Editora Musical), em sociedade com Otto Engel e seu irmão Dib Lutfi, para produzir o filme A Noite do Espantalho com financiamento da Embrafilme. Totalmente encenado em Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo, revela Alceu Valença e Geraldo Azevedo como atores e cantores.
O filme A Noite do Espantalho é exibido nos festivais de Cannes e Nova York, considerado um dos melhores do ano. O filme é exibido ainda em Viena (Áustria), Melbourne (Austrália) e Sidney (Austrália). Acumula prêmios no 1º Festival do Cinema Brasileiro de Belém e no Festival de Cinema Jovem em Toulon, na França.
É procurado por Jards Macalé, Chico Buarque e Xico Chaves para, juntos, fundarem uma associação de classe. Convocam a categoria de músicos e compositores que adere em massa a criação da Sombras, uma entidade sem fins lucrativos, com a finalidade de botar a boca no trombone contra a roubalheira do direito autoral. O movimento sensibiliza o Governo, que mais tarde criaria o SDDA e o ECAD, entidades arrecadadoras.
Em 1974, nasce sua segunda filha com Ana Lúcia, Marina de Castro Lutfi.
Volta a compor e, com o título da nova canção - Ponto de Partida -, prepara um novo show para percorrer o Brasil.
Gianfrancesco Guarnieri convida Sérgio a trabalhar com ele em sua nova peça, que se chamaria exatamente Ponto de Partida. No elenco, Oton Bastos, o próprio Guarnieri, Sérgio Ricardo, Martha Overbeck e Sônia Loureiro. Sérgio usa sua canção-título, além de musicar as letras de Guarnieri. O espetáculo tem casa cheia todas as noites.
A RCA lança o LP Sérgio Ricardo, dentro da série MPB Espetacular, produzido por Aloísio de Oliveira. Este se dizia inconformado com a absoluta ausência da voz de Sérgio no rádio.
Sérgio é motivado a filmar a história de Zelão, personagem de sua música. Compra um apartamento e um barraco no Morro do Vidigal.
Se envolve na luta contra a remoção dos favelados. E, ajudado por Eni Moreira, consegue envolver o advogado Sobral Pinto na luta. Sobral, que defende a causa gratuitamente, obtém sucesso nos tribunais.
Sérgio convoca seus amigos Chico Buarque, Gonzaguinha, Carlinhos Vergueiro, MPB 4 e muitos outros para a realização do show Tijolo por Tijolo, realizado na concha acústica da UERJ, como forma de angariar fundos para reerguer as casas dos moradores do Vidigal.
Mora no barraco do Vidigal por mais de um ano, durante o qual escreve a peça Bandeira de Retalhos.
Sérgio propõe novo show ao poeta e escritor Thiago de Mello, recém-chegado do exílio. Em Faz Escuro Mas Eu Canto, Thiago declama seus poemas e Sérgio canta suas canções ao piano e violão, dirigidos por Flávio Rangel. O espetáculo, lançado no Rio de Janeiro e com temporada lotada no Teatro Opinião, sai em turnê pelo Brasil. Fica uma grande amizade entre Sérgio e Thiago.
Maurício Tapajós, amigo de Sérgio, produz para a Continental um novo LP com canções inéditas. No entanto, eles não alimentam ilusões de sucesso. O que vale é o registro de No Vidigal, Do Lago à cachoeira, Contra a Maré, Lá vem Pedra, Tarja Cravada, Sexta-Feira 13, Canto Vadio e Ponto de Partida, além de Toada de Ternura (de um poema de Thiago de Mello) e uma releitura de O Nosso Olhar.
É convidado por Chico Buarque a integrar sua comitiva em visita a Cuba, para participarem do festival de música de Varadero. Faz dois shows, em Varadero e em Havana. Sérgio, Chico e os demais companheiros, Carlinhos Vergueiro, Nara Leão, MPB-4 e João Bosco, encerram o show cantando Corisco, de Sérgio.
Sérgio entrega o barraco no Vidigal para a associação dos moradores construir sua sede, e passa a morar em um apartamento na mesma comunidade.
Em 1980 lança o disco Flicts, resultado da trilha sonora da peça infantil baseada no texto de Ziraldo e dirigida por Aderbal Freire Filho. O LP sai pela Polygram, com arranjos do próprio Sérgio e interpretações do MPB-4 e Quarteto em Cy.
Sai pela Continental o LP Sérgio Ricardo e Geraldo Vandré, Juntos.
O poeta Carlos Drummond de Andrade, em sua coluna no Jornal do Brasil, tece elogios a Sérgio por seu trabalho musical para o livro de Ziraldo. O que seria o início da amizade de Sérgio com o poeta de Itabira. Drummond lhe envia seu único cordel, Estória de João-Joana, inspirado em um fato verídico, para que ele o transforme em música.
Em 1982, publica seu primeiro livro de poesia Elo : Ela, pela editora Civilização Brasileira. A edição conta com prefácio do linguísta Antonio Houaiss.
Prepara um show de voz e violão para apresentar-se no Barbas, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Declama os poemas do livro Elo : Ela entremeados de suas canções. A temporada é um sucesso.
Em 1985, com a participação dos músicos Bororó, Lui Coimbra, Paulinho "Briga" e Chacal, conclui o LP do cordel sinfônico Estória de João Joana, com orquestrações de Radamés Gnatalli. Seu parceiro, o poeta Carlos Drummond de Andrade, aprova o trabalho sem restrição.
Realiza, para a Cinemateca da Shell, seis curtas metragens: Balanço do Vidigal (1983), registro filmado do movimento comunitário que participou; Copacabana (1984), inspirado num poema de Vinícius de Moraes; Traço e Cor (1985), documentário sobre o pintor Zaluar; Dançando Villa Lobos (1986), com o grupo Nós da Dança; A Voz do Poeta (1987), com Ferreira Gullar; O Espetáculo Continua (1988), sobre um circo de periferia. Todos com seu irmão Dib Lutfi na fotografia.
Em 1985, é convidado pelo governador de Brasília, José Aparecido, ao ouvir o disco Estória de João-Joana, para uma apresentação no Teatro Nacional Villa Lobos, com a orquestra sinfônica de Brasília regida por Claudio Santoro para uma apresentação. Devido ao sucesso, fazem-se mais duas apresentações.
É incentivado pelo amigo Zaluar a assumir a pintura e a frequentar seu ateliê. Permanece por um ano dedicando-se a pintar.
O longo período da ditadura, dentre outros males, causa o distanciamento dos estudantes da ação política. Gradativamente, os shows de Sérgio em faculdades vão escasseando. Mas Sérgio continua a compor.
Lança seu o livro infantil O Elefante Adormecido em 1989, pela Editora Salamandra. A História do Brasil, como gigante adormecido, é contada como fábula do elefante que adormeceu enquanto a raposa roubava seu marfim. Todo ilustrado por Sérgio, com desenhos em bico de pena.
Apresenta mais um show sinfônico de Estória de João Joana, desta vez no MASP, em São Paulo. Junto com a banda principal, participaram a cantora Telma Tavares e a Orquestra Jovem de São Paulo, regida pelo maestro Juan Serrano. Sua aceitação rende mais uma apresentação no dia seguinte.
No início de 1990, pinta o painel do restaurante da PUC de São Paulo.
Em agosto, nasce João Gurgel do Amaral Lutfi, seu terceiro filho, da união com Irene Cristina Gurgel do Amaral.
Publica seu terceiro livro, Quem quebrou meu violão, uma análise da cultura musical brasileira baseada em sua vivência pessoal.
A Semana Sérgio Ricardo acontece no Rio de Janeiro (CCBB) e em São Paulo (MIS), com exibição de seus 4 filmes, suas telas, livros e discos, e a presença de Ferreira Gullar, Sergio Cabral, Chico de Assis e outros. Mais tarde, é convidado para repetir o evento no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.
José Aparecido de Oliveira, embaixador em Portugal e admirador do trabalho de Sérgio, convida o artista para uma turnê por Lisboa, Angola e Guiné Bissau em 1994.
É contratado pela TVE como diretor artístico do programa Arte no Campus, dirigido por Dermeval Neto, viajando por quatro regiões do país.
Em 1996, dirige a série do programa Homem Natureza, no qual também é narrador e autor da trilha sonora.
Walter Avancini é nomeado diretor artístico da TV Cultura (SP) e entrega a trilha sonora da série Zumbi dos Palmares para Sérgio musicar.
É premiado no Festival de Cinema de Brasília com o Candango de melhor trilha por seu trabalho no filme de Otávio Bezerra, O Lado Certo da Vida Errada.
Walter Avancini, agora na Manchete o chama para compor a trilha sonora da novela Mandacaru (1997), sob sua direção. Faz a composição, arranjos e solos.
Em 1998, em parceria com o selo da Rádio MEC, remasteriza a gravação de Estória de João-Joana para CD incluindo as vozes de Alceu Valença, Chico Buarque, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, João Bosco e Telma Tavares.
Monta um estudio de gravação em seu apartamento no Vidigal. Dá início aos arranjos e gravação do novo disco com produção independente, Quando Menos se Espera, com seis composições novas e quatro releituras de músicas antigas.
Em 1999, quando Sérgio comemora 50 anos de carreira, há uma nova apresentação de Estória de João-Joana no Theatro Municipal do RJ, dirigida e produzida por Adonis Karan e idealizada por Ricardo Cravo Alvim. Com os músicos Bororó (baixo), Jurim Moreira (bateria), Lui Coimbra (violão e charango) e Zé Marcos (piano), e a Orquestra Sinfônica do Teatro, regida pelo maestro Sílvio Barbato. O canto do cordel é dividido entre os artistas amigos que homenageiam Sérgio: Chico Buarque de Hollanda, Elba Ramalho, Alceu Valença, Zélia Duncan, Telma Tavares e sua filha Marina Lutfi.
Lança o CD Estória de João-Joana (2000), pelo selo MEC, com interpretações de Chico Buarque, João Bosco, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Telma Tavares e Alceu Valença.
A convite de Jorge Roberto da Silveira, então prefeito de Niterói, cria o projeto Palco Livre em Niterói, em 2000, na lona da Cantareira, que acontece semanalmente. Durante 3 anos, Sérgio revela novos artistas e resgata outros, esquecidos pela mídia. Uma amostra da melhor produção da música brasileira.
É homenageado no 34º Festival de Cinema de Brasília, com seu filme A Noite do Espantalho abrindo o festival no Teatro Villa-Lobos. Antes do filme, é realizada a quarta apresentação do concerto Estória de João-Joana com a Orquestra Sinfônica, regida pelo maestro carioca Silvio Barbato. O canto é dividido entre Sérgio Ricardo, Telma Tavares e Marina Lutfi.
Em 2002, finaliza e lança o CD, Quando Menos se Espera, pela Niterói Discos, dividindo as canções com suas filhas Adriana e Marina Lutfi.
Conclui a peça Bandeira de Retalhos no ano seguinte e cria novas composições e promove algumas leituras em sua casa, em Niterói. Bibi Ferreira e Elza Soares chegaram a fazer parte desses encontros.
Expõe seus quadros da série Transparecência, na Galeria da Villa Riso, no Rio de Janeiro, em 2005, com sucesso de crítica.
O Canal Brasil, da Globosat, exibe seus 3 principais filmes e a animação Zelão na Semana Sérgio Ricardo de Cinema, em 2006.
Sua filha Marina Lutfi assume o papel de produtora da carreira do pai e aprova um projeto no edital do Programa Petrobras Cultural, para a gravação de um CD com reinterpretações de suas músicas. Inicia-se o processo de gravação em 2007 e Marina apresenta novos músicos e arranjadores ao pai, que se sente motivado.
Se apresenta da Virada Cultural de São Paulo 2007, em show no Theatro Municipal, acompanhado dos filhos, de Alain Pierre e, ainda, com a participação especial de Filó Machado.
Em 2008, lança o CD Ponto de Partida, com distribuição da Biscoito Fino. O disco é um passeio por sua discografia e uma troca artística com os músicos-arranjadores Alain Pierre, Alexandre Caldi e Marcelo Caldi e dos três filhos de Sérgio, Adriana Lutfi, Marina Lutfi e João Gurgel.
Faz shows de lançamento do CD Ponto de Partida no Teatro da FECAP, em São Paulo, e no Teatro Rival, no Rio.
Em 2009, Ana Lúcia de Castro, ex-esposa, museóloga e professora doutora da Unirio, aprova na Pró-Reitoria de Extensão da universidade, o projeto de extensão Memória Artística Sérgio Ricardo, iniciando a organização e catalogação do acervo, com a cota de bolsistas, e em parceria com Marina Lutfi.
Faz mais uma exposição individual na galeria Villa Riso e expõe sua série de desenhos digitais Artistas de Rua, reproduzida em Fine Art (Gclée sobre canvas), em 2010.
Sérgio participa ativamente das redes sociais. Expõe diversas ideias, crônicas e críticas em sua prosa e verso.
Lança o blog-manifesto G.R.I.T.A. – Grupo de Resistência às Irregularidades no Terrenos das Artes, com o objetivo de organizar a classe artística para discutir questões relativas aos direitos no setor.
Participa ativamente do movimento pela aprovação da PEC da música, de autoria de Otavio Leite, que concede imunidade tributária a produções fonográficas brasileiras com música de autores nacionais
Em 2012, completa 80 anos e iniciam-se diversas comemorações e homenagens. Os produtores Ivan Fortes e Bete Calligares, em parceria com Marina Lutfi e Maíra Abrahão, produzem a exposição Sérgio Ricardo 80 Anos – Um buscador, sobre sua vida e obra e desejos para o futuro, no Instituto Cravo Albin.
Realiza três dias de concerto sinfônico Estória de João-Joana em Brasília, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, sob regência do maestro Claudio Cohen. Com enorme sucesso de público e participações especiais, o espetáculo é mais uma comemoração de seus 80 anos.
O Grupo Nós do Morro faz a montagem da peça Bandeira de Retalhos, com direção de Guti Fraga e Fátima Domingues. A estréia foi em 2012 no Teatro do Planetário da Gavea, no Rio de Janeiro, e seguiu por 2 anos em cartaz pelo interior do Rio, na cidade de São Paulo e uma apresentação em Lisboa.
Se apresenta no Ano do Brasil em Portugal em 2013 e faz shows com seus filhos pelo Brasil.
Motivado por uma turma de jovens cineastas, vizinhos do Vidigal, volta a filmar e realiza o curta-metragem Pé Sem Chão, com estreia no Festival de Cinema do Rio de 2014. No mesmo ano, é homenageado em festivais de cinema pelo Brasil e lança seus 4 principais filmes em DVD pela Lume Filmes.
Inicia nova série de pinturas em óleo sobre tela: Entrelaços. Realiza a exposição na galeria Villa Riso, Rio de Janeiro, em 2015.
Em 2017, finaliza seu mais novo longametragem, Bandeira de Retalhos, sucesso no Festival de Cinema de Tiradentes (MG).
Para comemorar a volta do pai ao cinema, Marina cria e dirige o show Cinema na Música de Sérgio Ricardo, com o repertório de trilhas e projeções de trechos dos filmes. Sérgio conta as histórias de sua carreria no cinema e divide o canto com os filhos, acompanhados de músicos parceiros. Faz diversas apresentações do show ao longo dos anos de 2014 à 2019.
Em 2019, o show Cinema na Música de Sérgio Ricardo é eternizado em CD e DVD, gravado no Teatro da UFF (RJ), em parceria com o Canal Brasil e a gravadora Biscoito Fino. O show conta com a participação especial dos amigos Alceu Valença, Dori Caymmi, João Bosco e Geraldo Azevedo.
Lança o livro Canção Calada (2019), com poesias inéditas de sua autoria. Os eventos de lançamento no Rio de Janeiro e em São Paulo reúnem amigos e fãs do artista em uma grande celebração espontânea, com direito a música e leitura de trechos e poemas.
Sérgio Ricardo parte na manhã de 23 de julho de 2020, aos 88 anos, deixando um legado infinito de luta, arte e amor em múltiplas expressões. Em dezembro do mesmo ano, nasce o Sérgio Ricardo Memória Viva, um acervo que convida todos a espalhar e espelhar o mestre, dando continuidade - em conjunto e incansavelmente - à produção de cultura e memória no Brasil.