Sérgio Ricardo só veio ao mundo porque João Lutfi, nome original, nasceu em 18 de junho de 1932, na cidade de Marília, em São Paulo. O João que virou Sérgio, mas não qualquer Sérgio, instaurou sua arte no Brasil durante a grande trajetória que enfrentou no cenário cultural do país. Músico, compositor, cantor, ator e diretor de cinema, o homem de inúmeros talentos e feitos deixou sua marca na grande colcha de retalhos que é o Brasil.
Desde pequeno esteve ligado à música e, ainda criança, teve aulas de piano. A rádio o abraçou quando tinha 17 anos, onde teve início sua carreira artística. Foi na Rádio Cultura de São Vicente que Sérgio trabalhou como locutor e técnico de som. Sua carreira começava a tomar forma. Em 1952 se mudou para o Rio de Janeiro, berço da bossa nova. As aulas de piano possibilitou que o músico trabalhasse em casas noturnas cariocas como pianista. Nesta época, iniciou seus estudos da Escola Nacional de Música e ali pode obter mais conhecimentos musicais.
Sérgio também foi resistência. Usou sua arte como forma de expressar tudo o que sentia a respeito do governo ditatorial que o Brasil estava prestes a seguir. No início dos anos 60, participou do Movimento de Música pela Resistência, realizado pelo Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes (UNE), e integrou o primeiro núcleo de compositores de bossa nova. Neste momento, lançou os LPs "Não Gosto Mais de Mim" e "A Bossa Romântica de Sérgio Ricardo". Junto com outros integrantes do movimento, protagonizou inúmeros shows, além de ter participado, já em 1962, do famoso show de bossa-nova no Carnegie Hall, em Nova York.
Suas músicas são marcadas pelas críticas sociais, característica dos músicos da época que, entendendo o cenário do Brasil, achavam nas letras das obras uma forma de protesto. Sua música esteve presente na dramaturgia. Peças de teatro como o Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, e filmes como Deus e diabo na terra do sol, O dragão da maldade contra o santo guerreiro e Terra em transe, ambos de Glauber Rocha, carregaram as letras de Sérgio Ricardo em suas trilhas.
O artista também esteve presente em uma polêmica que repercutiu em 1967. O episódio do violão quebrado e atirado na plateia no festival da TV Record aconteceu após sua música "Beto bom de bola" ser vaiada pelo público. Em uma entrevista dada para o quadro O som do Vinil, do Canal do Brasil, no YouTube, em julho de 2020, o apresentador e também músico Charles Gavin questiona o artista sobre o ocorrido. Ele afirmou que havia uma plateia alienada no evento, e que a canção fazia uma crítica aos cartolas, personalidades que "protegiam" os jogadores de futebol. "O maior cartola de São Paulo era o Machado de Carvalho, dono da televisão. Eu suponho que ele não tenha gostado da música. Então pintou um boicote por baixo daquela história. Eu me zanguei com aquilo e resolvi reagir", disse. Em 1991, lançou o livro Quem quebrou meu violão?, que faz referência ao episódio.
O artista fez parte de muitos movimentos culturais, tais como: Bossa Nova, Cinema Novo, Canção de Protesto e Festivais de Música Brasileira. Foi finalista no Festival Internacional da Canção Popular da TV Globo, em 1968, com a música "Canto do Amor Armado", e alcançou o primeiro lugar no Festival da Juventude da Bulgária. No decorrer dos anos 70 e 80, desenvolveu mais discos e compôs trilhas, atividade que manteve na década de 90. Seus últimos trabalhos foram Cinema na música de Sérgio Ricardo (2019) e Bandeira de Retalhos (2018), longa metragem onde atuou como diretor, compositor e roteirista. Na literatura, lançou o livro de poesias Canção Calada (2019).
Infelizmente, no dia 28 de julho de 2020 o artista veio a falecer aos 88 anos devido uma insuficiência cardíaca. Uma quinta-feira cinzenta para todos os fãs, admiradores e, acima de tudo, para a cultura brasileira. João Lutfi, como é triste a ausência de você. É saudade sim. Mas não é só minha.
Sua carreira marcou a história do Brasil.
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Juan Lessa é estudante de Jornalismo e Laboratorista dos cursos de comunicação social na Universidade Veiga de Almeida, campus Cabo Frio (RJ). Além disso, atua como repórter no informativo Expresso UVA, um projeto da Agência Experimental de Comunicação Social da universidade. Esse ano, realizou uma pesquisa sobre podcasts para o PIC UVA, o Projeto de Iniciação Científica também da universidade. Nas horas vagas, adora assistir filmes, séries e documentários na Netflix.