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#Música|Zeh Gustavo|02 Ago 2021

Alma Nua - Composição de Sérgio Ricardo/Zeh Gustavo

“Alma nua” nasce daquela amizade que ainda é capaz de surgir entre mestre e discípulo, num tempo em que talvez ambos se encontrem em extinção, qual a canção. Ou andem por aí às escondidas, traçando seus cafés com bolos. Voltando ainda mais um tanto, o embrião desse encontro musical acha um Zeh ainda menino já velho, mamado do mais sincero gole de goró, que comenta com seus irmãos de vida – e que na época compunham com SR os quadros do Instituto Casagrande – Kadu Machado, Áurea Alves e Marcelo Barbosa, que gostaria de estabelecer uma ponte com o imenso vate Sérgio Ricardo, cuja obra esse Zeh menino-velho conhecera em tempos absolutamente díspares que vão de espectador da novela Mandacaru e dos filmes de Glauber a um desavisado convite para ver SR tocar pessoalmente num projeto do BNDES, feito pelo também inesquecível Fernando Toledo. Personagens, personagens de uma saga fundada em amizade que foi de 2005 até a passagem de SR, entre intervalos mais longos de ausência do que gostaríamos. A vida é isso, que fazer? Ali por 2011, 2012, entre xícaras no Vidiga, o generoso-mor Sérgio me lasca, no conversê, nos idos de após eu lhe mostrar uma valsa minha (“Zeh, o poema é lindo. Até hoje não saquei o limite entre o poema e a letra de música. Mas a melodia... Eu tentaria fazer pequenos reparos...”): “Por que diabos ainda não fizemos uma música juntos?!”. Lembro até hoje do meu coração acelerado quando ele catou no MAC com quem ele muito brigava a melodia de “Alma nua”, que então se chamava “Adágio” e que ele afirmava ter dado ao Chico há uma pá de anos, sem volta. Eu, de sub do Chicão? Só tu mesmo, Sérgio! “Você tá é doido!” – recusei na farsa, não sem pedir, claro, para ele me enviar imediatamente por e-mail a melodia da música. Não demorou, fiz a letra, apaixonado que já me encontrava pela encomenda. Na verdade, fiz duas letras. A primeira remetia muito ao SR das bossas, mas não cheguei a lhe mostrar. A segunda versão veio para ficar: já era mais SR, com bossa mas letra mais renhida no sentimento, percorrendo a solidão do brasileiro abandonado da sorte que meu, nosso mestre SR sempre tão bem retratou em seus filmes, músicas, poemas, pinturas. Mandei a letra por e-mail, Sérgio aprovou mandando aquele putabraço característico de seus finais de missiva. E depois fui visitá-lo no Vidiga para acabarmos de conferir se a dita cuja cabia certinho na melodia. E como cabia! Sérgio pediu uma única mudança e tascou: “Agora sim! Ô parceiro!”. A filha é única. E só gravada agora, na posteridade que se reserva à obra do mestre, eterno velho-menino da criação tão sua, cujo trajeto infinito, assim, continua. - Zeh Gustavo. 

 

Ficha técnica "Alma Nua"

Composição: Sérgio Ricardo/Zeh Gustavo

Intérprete: Kell Santos

Arranjo, edição e direção musical: Daniel Delavusca

Violão: Renan Sardinha

Flauta transversal: Niágara Cruz 

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Zeh Gustavo é músico, escritor e revisor. Mexe com poesia, canto, letra, conto. Fez uma breve incursão pela filosofia política com um mestrado que relacionou o tema da vida outra de Foucault ao escritor da marginália Antônio Fraga. Na música faz parte, como cantador, de grupos como o Terreiro de Breque e já passou também por Cordão do Prata Preta, Samba da Saúde e Banda da Conceição. Há, no prelo, o disco Raiz e folha: o cancioneiro de Zeh Gustavo, gravado pela cantora baiana Kell Santos; e a coletânea poética Jumento com Faixa: deboches e antiodes ao fascismo, do qual Zeh é um dos organizadores e autores. Em 2019, lançou o livro de poesias Contrarresiliente. Na literatura, publicou, ainda, Eu algum na multidão de motocicletas verdes agonizantes (Viés, 2018; vencedor do Prêmio Lima Barreto de Contos da Academia Carioca de Letras), Pedagogia do suprimido (Verve, 2013; Autografia, 2015), A perspectiva do quase (Arte Paubrasil, 2008) e Idade do Zero (Escrituras, 2005). Participou, entre outras, das coletâneas Porremas (Mórula, 2018), Para ler o samba (Ímã, 2016), O meu lugar (Mórula, 2015), Rio de Janeiro: alguns de seus gênios e muitos delírios (Autografia, 2015), Porto do Rio do início ao fim (Rovelle, 2012). Foi um dos organizadores do FIM (Fim de Semana do Livro no Porto).


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