IMPRENSA|CLIPPING IMPRESSO |IM 00720
IP Nº 000831
Sérgio Ricardo - Ele era, até aqui, pra mim, a memória de um festival tumultuado, violões e vaias e uma música incrível defendida a unhas e dentes. Assumo a lacuna desse esquecimento sua falha. De repente na casa de um amigo, em Santa Teresa, encontro um compacto de Caetano, já meio antigo, da fase deus-mito-único-bondinho-pasquim-paulo-diniz e descubro um texto de Sérgio Ricardo para Vandré. Foi uma revelação. Não pela carta, mas pelo amor e pela paixão que demonstra viver a música, aspirar música e sentir música na carne como um grito. Então lembrei das musicas dele - do Sérgio Ricardo de ontem, do artista que não parou de pesquisar, que não se modou. Do homem. Lembrei que sempre viveu uma faixa marginal ao público que consome discos e mitos. Sérgio sempre foi coisa de poucos porque nunca foi estrela. Ele é devagar e lento. Até mesmo eu (sagradas simpatias pelo que não brilha muito) tinha me esquecido, ou deixado passar, minha admiração por ele. A lucidez com que encara os seus amigos músicos não é a do escolástico, do formal, porque ele é puro saque e decifra. Milton, por exemplo, de forma única, com o "espírito santo Milton Nascimento" e fala de Caetano, de Gil, dos últimos Chico num respeito espontâneo e natural (tão distante da posição de alguns compositores que quando curtem a indiferença, sobram nas invejas pequenas, nas mesquinharias das revistas de TV). E o que eu quero falar é do ser humano Sérgio Ricardo, pois eu acho isso o sangue da vida no artista - a sua existência multiplicada em arte, de carne pra carne e com todos os fios do cabelo. Eu acho que a gente deve reencarnar Sérgio e não ter medo da sua coragem.