IMPRENSA|CLIPPING IMPRESSO |IM 01643
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Alguém já disse que o desejo é metade da vida e a indiferença, metade da morte. Ao erguer os braços acima da cabeça e desce-los com todo peso da sua indignada fúria, Sérgio Ricardo optou por viver. Diante da ensurdecedora vaia que o impedia de cantar Beto Bom de Bola, no Festival de Música Popular da Record, ele reagiu. Espatifou o violão no chão e arremessou o que restou na plateia. Mas naquela noite de 1967 a lei da gravidade atraiu bem mais do que era apenas sólido (o violão) ao centro da terra: levou às profundezas sua carreira de cantor e compositor. Réu confesso de agressão à 'normalidade', foi condenado a décadas de ostracismo. O cenário ficou mais cinzento para Sérgio Ricardo ao assumir-se como um dos primeiros dissidentes da queridinha bossa nova (do qual foi um dos percussores), principalmente durante a ditadura, quando já exercitava letras engajadas. Aos 77 anos, ele não aguenta mais falar sobre o valioso Di Giorgio feito em pedaços e os entreveros musicais. Mas não há como escapar, ainda mais agora, que completa 60 anos de estrada. E queira ou não, a intempestiva reação virou marca.