IMPRENSA|CLIPPING IMPRESSO |IM 01532
IP Nº 002155
Todo rio vai dar no mar. É açude, é barreira, um dia o rio acabará transbordando e seguirá seu trajeto. Assim é a realidade cultural do Brasil. Foi-se a ditadura, deixando um ranço de temor esterilizando o curso do pensamento político, cercando-o de tabus e preconceito, erguendo diques aparentemente indestrutíveis. Perduram até os dias de hoje. Encheram-se seus espaços com a perdição do nosso destino cultural, centrifugando, como a se conformar com os limites da represa erguida. Para certo setores, a cultural é sinônimo de comércio, oportunismo etc. e cada vez mais criam o distanciamento ou impedem seu processo. Virou coisa do passado. Não se percebe, com antolhos para a realidade, que a cultura é o mar onde desembocam todos os afluentes da transformação de um povo, e que, por conseguinte, cabe a ele fazer seu próprio caminho. Quando se fala em política cultural, os mais corrompidos viram as costas, os menos torcem o nariz para não perderem suas médias conquistas, e as vítimas choram mágoas. Raros aqueles que, acordados entre a deformação, tentam recompô-la, e quase sempre acabam engolidos pela indiferença e apatia geral. Água que não se escoa. Assim é que, em meio a este marasmo, foi-se perdendo o rumo de nossa identidade cultural. Dessa consciência nasce o PALCO LIVRE. No momento em que escrevo estas linhas, prepara-se a sexta semana de sucesso da ideia, juntando sob a lona de um circo da Cantareira, em Niterói, artistas emergentes, novos e consagrados, numa confraternização de encher os olhos e os ouvidos ávidos da melhor música brasileira. É fantástica e crescente a receptividade da classe musical frente ao que se propõe... Então, compositores, cantores, músicos de qualquer tendência musical brasileira de boa qualidade, do poema sinfônico à cantoria de feira, não se acanhem! Escrevam, mandem seu trabalho, na forma de CDs, fitas, ou um intérprete de sua obra, que nossa plateia está esperando. E quem não puder vir, tente agitar um Palco Livre em sua cidade, para unir-se a nós. Venha conosco romper as muralhas desse embotamento cultural que inunda o país e, no encontro dessa pororoca, deixemos amazonicamente a água rolar. "O mar, quando quebra na praia, é bonito. É bonito". (Sérgio Ricardo, artista ilustra do elenco AMAR-SOMBRÁS, é compositor, cantor, instrumentista, arranjador e cineasta, além de quebrador de barreiras (e violões)).