IMPRENSA|CLIPPING IMPRESSO |IM 01335
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Curiosos os caminhos artísticos de Sérgio Ricardo, paulista de Marília (18/06/1932), filho de um libanês que tocava alaúde,se identificaria extraordinariamente com o Nordeste ao ponto de criar a mais baiana das trilhas sonoras - o clássico escore "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1963). Subindo ainda mais, no cinematográfico espaço da Fazenda Nova, no agreste pernambucano (aonde anualmente acontece a magnífica representação da Paixão de Cristo), Sérgio ali rodaria um filme-cordel ("A Noite do Espantalho", 1974), obra fascinante. imerecidamente pouco reconhecida na época... Este múltiplo e sempre genial artista mostra que, aos 53 anos, ainda a aparência de 30 anos passados, continua em vigor de criação. E apresenta uma obra maravilhosa, desenvolvida nada mais nada menos do que em parceria com Carlos Drummond de Andrade. Sérgio Ricardo, senhor talento - Há mais de 3 anos que uma jovem paranaense, Regina Ramos, trabalha numa tese muito especial: a obra e as ideias de Sérgio Ricardo. Aliás, João Mansur Litfi, conforme seu registro de nascimento. O trabalho é amplo. Afinal há muitos artistas numa única pessoa. O menino que estudou num conservatório, o radialista que trabalhou na Cultura de Santos, o pianista das madrugadas de Copacabana, substituindo o Tom Jobim que começava sua carreira de arranjador. Na época da Bossa Nova, as primeiras composições ("Cafezinho"), o primeiro sucesso ("Buquê de Isabel", gravado por Maísa, 1958), o intimismo melancólico de seus dois primeiros lps na Odeon (sem contar um disco instrumental, feito em 1959 e até hoje a maior raridade musical)... Assim falou o poeta - A palavra do poeta Carlos Drummond de Andrade, após ouvir a transposição musical que Sérgio Ricardo fez de seu poema de cordel: "Passei parte da noite de ontem e vou varando o frio desse sábado ouvindo o LP do nosso cordel, sem me cansar de ouvi-lo". Sigo embalado pelo poder mágico de sua voz e de sua música, combinados de forma tão patética que ao autor do velho poema já meio desligado do seu trabalho, causa arrepios. É a fundo, indisfarçável emoção que despertam em nós as criações mais puras e generosas do espírito artístico. Você me inspirou essa emoção profunda que confraterniza as criaturas sob um signo poderoso. A gravação está esplêndida, e o trabalho de orquestração do mestre Radamés deu uma riqueza fabulosa de ressonâncias íntimas ao fino lavor inicial do cordel. Obrigado, meu caro Sérgio, de todo coração pela esmagadora sensação de beleza e de humanidade que você me deu", Rio, 4 de maio de 1985.