SÉRGIO Ricardo : vida e obra (II).

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Cidade pequena, pouca concorrência e logo João era a sensação das festinhas, onde executava sempre a malabarística "Dança Ritual do Fogo" (Manuel de Falla). E de tanto tocar sua peça, que ele acabou ficando conhecido como o pianista local. Mas não era só a "Dança do Fogo" que João precisava repetir sempre: quando estava com a namorada, ela o fazia assobiar a noite toda o tando "La Cumpasita" e a rumba "Siboney". - Namorar que era bom ela não deixava. Antes dos dezesseis anos, João já fazia as primeiras tentativas de composição, "alguma coisa infantil, sem grande significado". Um dia, chegou a fazer uma valsa. - Era uma música meio pianística, onde eu tentava colocar toda a técnica que tinha absorvido, alguma coisa meio clássica meio popular. Só serviu para mostrar uma certa liberdade de criação. Naquela época eu já escrevia música, eu mesmo escrevi essa valsa. João se transfere para Santos. Aos dezesseis anos, João Lutfi transfere-se para Santos. Foi trabalhar na ZYH-3, Rádio Cultura São Vicente, inaugurado no início de 1947 e na época propriedade de seu tio, Paulo Jorge Mansur. Pretendia continuar: os estudos - havia terminado o ginásio - e aperfeiçoara-se em música. Mas o rádio não permitiu nada disso. João trabalhava demais fazendo de tudo. Escrevia, era operador de som, propagandista, discotecário. Casa e comida corriam por conta do tio, que ainda lhe pagava um "ordenado razoável". Um dia João foi à casa de alguns amigos e encontrou um piano. Havia ficado um ano quase, sem tocar, e o resultado foi uma decepção. - Não saiu nada, foi uma frustração violenta. Senti que estava tudo perdido todos aqueles anos de estudo. Foi procurar então uma boate em cujo piano passou a tocar de dia, até surgir uma oportunidade. Em outra boate o Recreio Prainha, ele começou a tocar profissionalmente e logo teve uma surpresa, ganhava mais dinheiro tocando piano do que trabalhando no rádio. Quando já estava se decidido pela nova profissão, surge um convite de outro tio. Vai para o Rio de Janeiro, trabalhar como locutor no Rádio Vera Cruz. E voltou a estudar fazendo o curso científico no Colégio Lafaiete. - Mas não voltou ao estudo da música, que ficou aquele mesmo que eu tinha feito em Marília. Eu tinha parada ali mas desenvolvia uma técnica muito pessoal, mais particular tentando imitar o estilo dos pianistas da moda para poder conseguir emprego. Até então as influências que João recebera limitava-se à música erudita - assinalada durante os estudos e na Rádio Cultura São Vicente - e ao que escutava no rádio durante a infância: Luiz Gonzaga, Orlando Silva e outros cantores da moda.